É difícil fazer uma crítica imparcial de um remake de um filme que vi enquanto criança, ainda por cima sendo um filme que me marcou imenso e fazendo parte de um dos meus franchises prediletos! Afinal de contas, as comparações são impossíveis de ficar guardadas. Então optei por fazer esta crítica com 2 pesos e 2 medidas: a de alguém que nunca viu o filme e a de um fã que já viu o original mais vezes que as que gostaria de admitir. Acham que é injusto? Não creio. Mas vamos começar!
Antes de mais dizer que este filme não é novo! Foi produzido em 2019 e exibido pela primeira vez em Los Angeles no Dia da Independência dos EUA e só depois partiu para o Japão. No passado dia 27 de Fevereiro, conhecido mundialmente como
Pokémon Day, chegou a todo o mundo através da
Netflix.
Pode ser o
boomer dentro de mim a falar, mas a animação 3D deste filme não funciona muito bem a nível das personagens humanas. Sim, pode ser por estar habituado a vê-las de uma certa forma ao longo de vários anos, mas mesmo com um olhar fresco acho que há algo que não funciona a 100% com esta estética tri-dimensional. Acho que o momento em que soube que o design estava estranho foi no primeiro grande momento do
Brock no ecrã; houve algo ali a não funcionar. O mesmo já não posso dizer relativamente aos cenários: a definição é extremamente elevada e traz até algo de novo ao filme, ao ponto de nos questionar-mos como raios é que estas personagens fazem escaladas em superfícies tão irregulares e escorregadias sem ter uma pitada de poderes do Homem-Aranha? Ainda assim, estes detalhes acabam por ficar para segundo plano quando nos começamos a focar na história.
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Pikachu e Ash Ketchum no novo filme | Fonte: Pokémon Company |
Para quem viu o original e espera encontrar coisas novas no enredo, então o melhor é não carregar no play! mas também, porque quereriam muitas alterações num filme tão icónico quanto este? Ganhem juízo!
A história desenvolve-se quase como uma cópia de papel químico do título original, com umas ligeiras
nuances aqui e ali. Um grupo de cientistas descobre um fóssil de
Mew e usa o seu ADN para produzir um clone adulterado para ser o Pokémon mais poderoso do mundo:
Mewtwo. Ao ganhar consciência, o clone revolta-se contra os seus criadores e é acolhido pelo líder da
Team Rocket:
Giovanni, para depois também se revoltar contra este quando se apercebe que está apenas a ser usado. Isto leva
Mewtwo numa jornada de "Contra-Ataque" contra os humanos e
Pokémon que os servem.
Ash,
Brock,
Misty e
Pikachu acabam por se deparar frente a frente com
Mewtwo e o seu bando de
Pokémon clone, onde travam uma batalha para ver quem é merecedor do dom da vida: clones ou originais.
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Brock, Ash, Misty e Togepi, da esquerda para a direita | Fonte: Netflix |
A progressão da história continua a ter um bom ritmo, nunca sentimos que o filme nos está a tentar manter agarrado ao ecrã mais que o suposto (de notar que esta longa-metragem continua a ter cerca de 1 hora e meia de duração, sabem, como se fazia antigamente!) nem tenta inventar pretextos para avançar. Aliás, se alguma coisa, acho que se desfaz de algumas notas que davam um pouco mais de personalidade à versão 2D. Não posso deixar de destacar o facto de aqui não termos nenhum
suspanse em relação à identidade do
Mewtwo como o "treinador mais forte do mundo", o filme mostra-nos logo o plano desde o início. Sim, certamente que muita gente já sabia que era este o desfecho, mas ainda assim gostava que tivessem feito como no original e tentassem manter algum mistério para quem não conhece a história, afinal de contas, não são só os fãs
old-school que vão ver isto. Também tenho que destacar pela negativa o facto de terem encurtado para quase nada o discurso do
Meowth que, traduzindo o
Mew, falava da igualdade de todos os seres vivos em popularem o planeta. O ideia manteve-se presente, mas acho que o momento perdeu alguma da emoção e da profundidade. Em sentido oposto, acho que o momento final, aquele em que as lágrimas dos
Pokémon salvam o dia, esteve tão ou mais emotivo que na versão original. Embora eu já soubesse bem o que ia acontecer, foi um momento que despertou todos os meus sentidos e me deixou agarrado ao televisor (e a sacana da lagrimita tinha de aparecer bem lá no cantinho do olho).
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Mewtwo e Mew no novo filme | Fonte: Pokémon Company |
Como alguém que cresceu com esta série e que viu vezes e vezes sem conta o filme original ao ponto de saber algumas falas de cor e salteado, gostei do esforço do estúdio português em trazer alguma referência dos tempos antigos para este remake. Sim, estende-se apenas à
Helena Montez a reprisar como
Misty e embora o
Pedro Almendra já tenha interpretado o
Brock anteriormente, não era ele quem fazia a voz no dos anos 90. Ainda assim, foi uma boa atenção ao detalhe da
Cinemágica, estúdio que faz as dobragens de
Pokémon de há uns anos a esta parte. Aliás, as vozes são aquelas que conhecemos dos trabalhos mais recentes:
Raquel Rosmaninho (
Ash Ketchum e
Jessie),
Mário Santos (
Meowth e Narrador),
Pedro Mendonça (
James) e
Rodrigo Santos (
Giovanni). A interpretação de
Mewtwo, que no original caiu sobre
Carlos Freixo, aqui ficou a cargo do
Raul Pereira.
E já que falamos sobre o que nos entra pelas orelhas, tenho que tirar um pequeno paragrafo para falar da banda sonora. Foi uma tremenda pena não terem tido autorização para utilizar a banda sonora original para esta adaptação. Confesso que estava com grande expectativa de ouvir "
Brother my Brother" na cena de batalha dos clones contra os originais e uma pequena parte de mim doeu quando me apercebi que não tinham conseguido a licença da música da
Warner Bros.; aceitava também um remake da música, mas não aconteceu nada disso: fui brindado com uma música dramática genérica que, embora sirva o momento, não lhe faz justiça. Mas isto pode ser o lado saudosista a falar, fica ao vosso critério.
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O trio principal no castelo de Mewtwo | Fonte: Netflix |
Se ainda não perceberam que tenho sentimentos mistos em relação a este filme, é porque claramente não estão a ler esta crítica com atenção. Vendo esta longa-metragem com os olhos de um fã de longa data, há coisas que não são completamente do meu agrado e me criam algumas reticências em recomendar o filme. Por outro lado, se analisar a película com olhos frescos, vejo que a narrativa é boa e que este é um título que qualquer fã de
Pokémon deve absolutamente ver.
No cômpoto geral, tenho que dizer que
Pokémon: Mewtwo Contra-Ataca - Evolução é um bom filme. Para um fã mais jovem e que não tenha tido a oportunidade de ver o original, este é sem sombra de dúvida um bom substituto. Para os fãs mais da velha-guarda como eu, fica o conselho: não esperem que este filme vos cause o mesmo impacto que a sua versão dos anos 90, já precisamente por isso é que esse é e será sempre o original para nós! Mas, tal como o filme nos ensina, os originais e as cópias podem viver em harmonia nos nossos corações.
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